sábado, 28 de novembro de 2009

Meu kakau

Era uma tarde como outra qualquer em que senti saudade de ser um pouco mais mãe do meu Kakau.

Quando ele nasceu há 7 anos, minha vida mudou completamente. Dormi menina e acordei mulher. Devo muito do que sou aquele menino. E lhe confessei “Você me fez mãe”, abriu um sorriso, olhou-me nos olhos, silenciou e me abraçou.

Este pingo de gente foi o melhor amigo que tive na vida até hoje. Passamos barras pesadas, algumas só nós dois, e suas palavras consolaram e reergueram como ninguém mais poderia.

Quando nasceu, eu escrevi um caderno para ele, falando sobre meus sentimentos, a dor de ter que trabalhar com ele tão novo, o quanto meus seios cheios doíam, o amor que ele trouxe à minha vida. Escrevo muito pouco agora e ainda tenho que dividir com os escritos para sua irmã, mas o caderno dele está bem mais grosso...

Então decidi que o buscaria no colégio para fazer um programa de mãe e filho, só nós dois.

Fizemos compras, corremos na rua, coloquei-o um pouquinho no banco do carona, andamos abraçados, de mãos dadas, e, quando corremos brincando, ele me olhou nos olhos como quem me dizia “Você esta particularmente legal hoje”...

Fomos então ao shopping, comemos a pizza vegetariana que ele tanto ama e em seguida fomos ao parque de lá. Ele escolheu ir naquele brinquedo grande que tem piscina de bolinha, escorregador, pula-pula, etc. Foi o momento mais comovente.

A cada passo que ele dava, seja no escorregador, na piscina de bolinha ou no pula-pula, ele me fitava para ver se eu estava olhando pra ele. E sempre estava. Aquele riso lindo não saía de seu rosto e pensei o quanto orgulho tenho, o quanto de gratidão tenho por ter sido escolhida sua mãe nesta vida. Meus olhos então se encheram de lágrimas felizes.

Ele está crescendo. Sua pele ainda é macia, mas ele está crescendo.

Hoje ele está melhor do que ontem e amanhã estará ainda melhor.

Toda a força que tem cresce junto com seu tamanho. E a sensibilidade, e a inteligência e a disposição também.

É uma dádiva ter filhos, mas é uma honra ser a mãe do Kakau.

domingo, 15 de novembro de 2009

Filhos Vegetarianos

*

Um fardo que acompanha todos os pais vegetarianos é se "deixamos" os filhos comerem carne.

É difícil demais reduzir esta postura de vida a uma questão tão reducionista assim, mas vamos tentar.

Onde esperamos que pais da assembléia de Deus levem seus filhos para aprender sobre a vida: em sua igreja evangélica ou num terreiro de macumba?

Nós inevitavelmente passamos nossos valores aos filhos. Não existe esta questão de deixar ou não deixar. O que existe é o respeito. Respeito à opinião deles, respeito à natureza, respeito à vida.

Não existe esta coisa de imposição. Imposição é o que fazem com os animais que definitivamente têm apego a vida e não querem viver e morrer parar virar comida de humano.

Os princípios também são herdados. As vezes na mesma intensidade.

Dentro desta lógica, não faz sentido ter pedaços de animais no congelador. Por mais que pareça natural para todo o resto, para nos, jamais será.

Não há como falar sobre este assunto sem mencionar que vegetarianismo é somente a ponta do iceberg. É, pra início de conversa, deixar se comer animais é uma conseqüência da prática de um conhecimento aprofundado, de uma consciência ampliada e de uma ética que se estende a todos os seres, não se limita aos da mesma espécie.

Esta perspectiva não acompanha necessariamente todos os vegetarianos obviamente. Mas todos os vegetarianos acabam por praticar o respeito animal por não usar animais na alimentação.

Digo isto pois existem pessoas que se tornam vegetarianas apenas por crer que seja melhor para sua própria saúde, não necessariamente por ética ou ecologia.

Ninguém pode obrigar ninguém a respeitar os animais. Nem mesmo os filhos. Mas é óbvio que as crianças veêm, escutam, se interessam e se envolvem com nossos valores. Principalmente quando nossos valores são realmente causas relevantes e ideais de vida, como é o caso de muitos militantes pelos direitos animais.

A questão é que para se defender e não fazer o que todos sentem ser o correto, grande parte da população ridiculariza nossa compaixão pelo próximo, quando o próximo não é bípede.

Compreendemos esta primeira reação em admitir o óbvio, afinal, também já comemos carne, sabemos como é o outro lado. O problema é quando usam o que temos de mais bonito, o amor, para nos diminuir e desvalorizar. Aí realmente fica complicado compreender.

Vegetarianos, religiosos, cientistas, professores, todos nos criamos e educamos nossos filhos de acordo com nossos princípios. Não seria justo pedir que qualquer pessoa eduque seus filhos baseados simplesmente numa cultura conveniente.

O fato de todos fazerem errado, não nos autoriza a fazer o mesmo. Não é porque todo mundo come carne e considera isto aceitável, que este hábito deixará de ser cruel e que desensinaremos nossos filhos sobre o amor incondicional que vive em nós.

E na verdade, não é somente o vegetarianismo que defendemos, mas o abandono de todos os vícios, a promoção da ecologia e uso sustentável dos recursos do planeta, respeito ao natural e o não uso de produtos químicos ou que contenham químicas, é toda uma percepção e uma prática que, em nosso caso, nasceu com o vegetarianismo.

Inevitavelmente, as crianças estão fadadas a enfrentar as mesmas críticas e a lutarem pelos mesmos princípios. Talvez exatamente por este motivo, tenham vindo através de nós.

Aqui em casa, todos são respeitados, são escutados, são importantes, principalmente nossos filhos.

Fazer isto é muito mais fácil do que parece.

Mas quase ninguém quer ver e menos ainda está disposto a tentar.

É uma luta solitária.

Mas ninguém disse que seria fácil.

*Mãozinha da Gaia, atacando o prato sempre vegetariano do Kakau.