segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Amiga

Um dia há 20 anos, minha mãe disse que, quando era criança, sonhava ter uma filha que fosse sua amiga e eu não estava sendo, pois não contava minha vida a ela.

Eu não contava porque não podia contar. Eu não contava porque ela não era a amiga que desejava que eu fosse.

O tempo todo julgava, condenava e executava suas punições. Não me explicou “Porquê não”, mentiu, me fez sentir mal. Descobri nos livros, nos professores, na vida e comigo mesma as coisas que hoje sei que toda menina deve saber.

Não fez por mal. Tinha uma vida miserável em todos os sentidos. Um casamento mal sucedido, 2 filhos biológicos pentelhos, 1 adotivo, trabalhando em jornada dupla, tripla, quadrupla para nos sustentar. Ainda lembro das marcas que as sacolas pesadas deixavam em seus braços.

Tudo para que eu tivesse uma vida menos miserável que a dela.
E conseguiu.

Mas enfim, ela não tinha condições emocionais, mentais e físicas de ser minha amiga e também não era justo cobrar isso de nós.

Desde que minha mãe levantou essa questão eu fiz uma promessa: a de que eu realmente faria por onde para ser amiga da minha filha.

A Gaia ainda é muito pequena, mas não perco a oportunidade de chamá-la e de ser sua amiga.

Através dela, vejo minha infância, minha vida, vejo a mim mesma... De fora. Sua alegria, sua insistência, sua doçura e até seus defeitos são uma grata réplica de mim.

Estou conseguindo ser a amiga da minha filha que não pude ser para a minha mãe. A amiga que eu sonhei ser e ter.

Eu lhe dei o meu melhor, mesmo sendo tão imperfeita. Quero andar ao seu lado, que tenha orgulho de mim, que conte comigo, que saiba quem sou e se veja nos meus olhos.

Seremos as maiores amigas que mãe e filha jamais foram. Por promessa, por ser o certo e principalmente por amor.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Por que Acontecem Coisas Ruins?

As mamíferas selvagens e radicais como nós, sempre acabam falando somente das coisas boas que a maternidade traz ou da dor que é ver um filho doente. Como se não houvesse outro problema, pirraça, hesitação ou desequilíbrio. Como se pintássemos um mundo cor de rosa que ninguém acredita que existe.

Existe um mundo cor de rosa, mas é claro que, em alguns momentos, há problemas no paraíso. E até mesmo esses acidentes de percurso têm sua importância no caminho de aprendizado de mãe e de filho. Até porque é a primeira vez que sou mãe e eles, filhos. Não sabemos tudo sobre nossa relação.

Estamos todos aprendemos.
A regra para que isso não se torne um caos é: se errar, tem que reconhecer, tem que pedir desculpas. Isso vale em todas as direções. Do Klauss para mim, do papai para a Aglaia, da Aglaia para o Klauss, de mim para o papai. Todos erramos e todos temos que consertar.

Uma outra coisa importante é toda vez que dizemos “Não”, deve existir uma razão explicada logo a seguir. Quando crianças, eu e o meu marido escutamos muito “Não porque não!”, o que é deprimente, ditador e emburrecedor. Desta forma, eles SEMPRE compreendem e, com o tempo, obedecem. Só é justo pedir uma coisa a eles, se souberem o motivo. Não estamos lidando com animais. E até eles aqui, neste sentido são respeitados. Imagine se não respeitaremos nossos filhos.

Não colorimos a realidade. Não florimos a verdade para obrigá-los a fazerem coisas ruins. Por isso, ao seu tempo, sabem que o bife no prato é um animal, que nasceram por onde nasceram sem grilos, as transformações pélas quais o planeta está passando, que na escola existem babacas como em qualquer outro lugar.
Mas as coisas boas superam de longe as coisas ruins.

E é por isso que falo mais delas. É por causa desses dois filhos, com todas as mazelas de ser mãe deles que desejo ser mãe novamente. É por eles que faço planos irrelatáveis aqui. É por eles, que não me ocorre voltar atrás e ter outra vida!

Me arrependo de muitas coisas. Mas de ser mãe, nem um segundo da minha vida.