quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ser Coerente ou Conveniente, Eis a Questão

De vez em sempre, surge a questão: “Como você faz com seus filhos se quiserem carne” ou “Você proíbe seus filhos de comerem carne?”
E agora vou responder oficialmente a estas questões.

Quando estamos imersos numa cultura, numa sociedade ou num meio funcionamos como um peixe que não consegue ver a água, já dizia Marsden Wagner. Não podemos criticar o que é normal demais e quem consegue, julgamos como radical e desertor, desvalorizando a pessoa para desconsiderar seu ideal.
“Aquele gayzinho do meu chefe não tem moral para me dizer como devo agir com o cliente”
“Apanha do marido e quer ensinar a educar filho dos outros...”
“Comeu carne a vida toda e agora quer ser vegetariana!”
E assim destruímos a moral para destruir a pessoa. Jogo baixo e sujo.

Meus filhos não comem animais, porque eu e meu marido sabemos e passamos a eles o valor da vida. Não há justificativa plausível em nosso cotidiano para nos alimentar da morte. Não passamos fome, não precisamos caçar, conhecemos todo o processo e somos conscientes. Isso deveria bastar.

Não há como educar filhos sem passar a eles nossos valores. Um evangélico não leva seu filho ao centro espírita só para que ele experimente outras crenças e vice versa. Não há como ensinar aos filhos o que consideramos antiético, cruel e irracional.

Nosso motivo é mais nobre ainda, pois não é somente a formação do caráter – que por si só já é muito importante -, mas também não queremos matar. Mesmo que socialmente isto seja perfeitamente aceito.

Nossos filhos não são proibidos de comer carne nem de nada. Nossos filhos são conscientizados. Nossos filhos têm conhecimento e ideais. Não é porque são diferentes que são menos importantes.

Sabendo – de preferência vendo - de onde vem a carne, dificilmente uma pessoa continua comendo. Eles querem saber, eles querem enxergar, então não se alimentar de animais mortos não é um desafio para eles.

Fazê-los comerem é que é uma grande violação, uma falta de respeito e de ética aquele que está criança, mas muitas vezes é um espírito muito mais evoluído e maduro que o nosso.

Aqui em casa não há mentira e não há excessos. Eles, à sua maturidade, sabem ou saberão o que significa cada um de seus atos, as conseqüências de seus comportamentos e como fazer um mundo melhor, começando a revolução a partir de si mesmos.

O que vejo é que as crianças “normais” é que são privadas da coisa mais sagrada: a verdade. Não sabem de onde vem o bifinho para não se chocarem, não sabem de onde nasceram para não pensarem em sexo, não escutam o “não” para não termos que explicar, não amam porque ninguém lhes ensinou o que é, de verdade, o amor.

Na nossa família, existe pedido de desculpa, existe porquê, existe saber esperar, existe o “dormir juntadinho”, existe as coisas como elas são e como elas devem ser.
Erramos e acertamos, mas existe muito amor.
E acertamos mais do que erramos...

Deixar de comer carne, não é o maior desafio.
O grande lance é conseguir enxergar uma realidade que quase ninguém quer para não abrir mão de um prazer... Ou de uma teimosia.

Se importar tanto com o que a maioria esmagadora das pessoas acha supérfluo tem um preço. Mas para mim, comer animais não é mais uma opção.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O Amor Não Divide: Multiplica

Até engravidar pela segunda vez, eu tinha medo de não amar meu segundo filho como o primeiro. Afinal de contas, o Klauss havia passado comigo os momentos mais difíceis da minha vida, me ensinou a ser mãe, foi meu amigo, me fez sentir pela primeira vez o amor de verdade.

Não via como outra pessoa pudesse fazer tanto por mim, modificar tanto a minha vida quanto meu primeiro e, por tanto tempo, único filho.

Ainda assim, eu queria muito sentir novamente uma pessoinha mexendo dentro de mim. Queria e precisava não depositar todo meu amor e expectativa em uma única pessoa, o Klauss... Porque isso também lhe faria mal.

Então deixamos a Gaia vir. Não planejamos nem não planejamos. Nem evitamos nem deixamos de evitar completamente. E numa tarde de outono, numa cachoeira, descobrimos que ela, ainda tão minúscula, já morava em mim.

A gravidez foi bem diferente. Eu me sentia muito bonita e saudável e sabíamos que era uma menina, mesmo sem precisar saber.

O amor nasceu de maneira longa, lenta e natural, sem sofrimento. O Klauss me deu a maternidade e Aglaia me deu a feminilidade.
Nele, eu vejo meu melhor amigo, nela eu vejo a mim mesma.

Aprendi com meus filhos que não existe uma coisa mais importante que outra. Nem amor maior. Desde que minha menina nasceu, passei a amar mais ainda meu menino. E amei ainda mais o mundo por causa desse amor por eles.

Hoje compreendo melhor muitas coisas. Cresci milhões de anos luz nesses 8 anos em que sou mãe, mas a cada instante que passa aprendo mais.

Gosto de me sentir amada, mas pela primeira vez na vida, tenho prazer em simplesmente amar.

De fato, o que o Klauss fez em minha vida foi único. Mas eu ainda tinha muitas coisas para aprender e a Aglaia veio dar o que faltava e fez isso de maneira brilhante.

Talvez ainda esteja faltando alguém nas nossas vidas e, se estiver, descobrirei outras lições e sentimentos que ainda sequer sei o nome. Só que o principal aprendizado que a Aglaia me deixou me fera desta vez, mesmo antes de saber quem é este alguém, que o amor não se divide, mas se multiplica para que todos possam compartilhar o verdadeiro sentido da vida.