Um dia há 20 anos, minha mãe disse que, quando era criança, sonhava ter uma filha que fosse sua amiga e eu não estava sendo, pois não contava minha vida a ela.
Eu não contava porque não podia contar. Eu não contava porque ela não era a amiga que desejava que eu fosse.
O tempo todo julgava, condenava e executava suas punições. Não me explicou “Porquê não”, mentiu, me fez sentir mal. Descobri nos livros, nos professores, na vida e comigo mesma as coisas que hoje sei que toda menina deve saber.
Não fez por mal. Tinha uma vida miserável em todos os sentidos. Um casamento mal sucedido, 2 filhos biológicos pentelhos, 1 adotivo, trabalhando em jornada dupla, tripla, quadrupla para nos sustentar. Ainda lembro das marcas que as sacolas pesadas deixavam em seus braços.
Tudo para que eu tivesse uma vida menos miserável que a dela.
E conseguiu.
Mas enfim, ela não tinha condições emocionais, mentais e físicas de ser minha amiga e também não era justo cobrar isso de nós.
Desde que minha mãe levantou essa questão eu fiz uma promessa: a de que eu realmente faria por onde para ser amiga da minha filha.
A Gaia ainda é muito pequena, mas não perco a oportunidade de chamá-la e de ser sua amiga.
Através dela, vejo minha infância, minha vida, vejo a mim mesma... De fora. Sua alegria, sua insistência, sua doçura e até seus defeitos são uma grata réplica de mim.
Estou conseguindo ser a amiga da minha filha que não pude ser para a minha mãe. A amiga que eu sonhei ser e ter.
Eu lhe dei o meu melhor, mesmo sendo tão imperfeita. Quero andar ao seu lado, que tenha orgulho de mim, que conte comigo, que saiba quem sou e se veja nos meus olhos.
Seremos as maiores amigas que mãe e filha jamais foram. Por promessa, por ser o certo e principalmente por amor.