Um dia há 20 anos, minha mãe disse que, quando era criança, sonhava ter uma filha que fosse sua amiga e eu não estava sendo, pois não contava minha vida a ela.
Eu não contava porque não podia contar. Eu não contava porque ela não era a amiga que desejava que eu fosse.
O tempo todo julgava, condenava e executava suas punições. Não me explicou “Porquê não”, mentiu, me fez sentir mal. Descobri nos livros, nos professores, na vida e comigo mesma as coisas que hoje sei que toda menina deve saber.
Não fez por mal. Tinha uma vida miserável em todos os sentidos. Um casamento mal sucedido, 2 filhos biológicos pentelhos, 1 adotivo, trabalhando em jornada dupla, tripla, quadrupla para nos sustentar. Ainda lembro das marcas que as sacolas pesadas deixavam em seus braços.
Tudo para que eu tivesse uma vida menos miserável que a dela.
E conseguiu.
Mas enfim, ela não tinha condições emocionais, mentais e físicas de ser minha amiga e também não era justo cobrar isso de nós.
Desde que minha mãe levantou essa questão eu fiz uma promessa: a de que eu realmente faria por onde para ser amiga da minha filha.
A Gaia ainda é muito pequena, mas não perco a oportunidade de chamá-la e de ser sua amiga.
Através dela, vejo minha infância, minha vida, vejo a mim mesma... De fora. Sua alegria, sua insistência, sua doçura e até seus defeitos são uma grata réplica de mim.
Estou conseguindo ser a amiga da minha filha que não pude ser para a minha mãe. A amiga que eu sonhei ser e ter.
Eu lhe dei o meu melhor, mesmo sendo tão imperfeita. Quero andar ao seu lado, que tenha orgulho de mim, que conte comigo, que saiba quem sou e se veja nos meus olhos.
Seremos as maiores amigas que mãe e filha jamais foram. Por promessa, por ser o certo e principalmente por amor.
3 comentários:
Adorei esse post!
Sabe, eu e minha mãe conseguimos vencer nessa questão de amizade... eu acho que nunca conheci uma mãe e uma filha que sejam tão amigas como eu e minha mãe! Sempre foi assim, é impressionante como a gente sempre se entendeu, e isso é tão bom! Quero muito também que seja assim com a minha futura filha, acho super saudável!
Beijinhos
PS: me envia seu email para eu te convidar para visualizar meu blog!
Sabe Dydy, acho que querer ser amiga da filha é um desejo profundo de toda mãe. E acho que é algo impossível de acontecer. Amigos a gente escolhe, eles deixam de ser amigos. Mae e filha nunca. Há o momento de matar a mae para cnstruir a propria identidade, a fase de reaproximaçao, de novos afastamentos. Somos mais que amigas de nossos ilhs. Somos maes e a dimnsao disso é algo que só os anjos podem entender. é amar incondicionalmente, servir eternamente.
Ah, que texto lindo!
To aqui me segurando pra não chorar!
Sabe que nunca pensei em ser amiga da minha filha? Pelo menos não com esse nome!
Gostaria de ser próxima, mas acho que amizade é diferente... sei lá!
Minha mãe tb deu um duro danado pra ue nós tivéssemos mais oportunidades que ela, e conseguiu, mas pagou o mesmo preço, a distância, a falta de tempo, mas depois que fiquei grávida passei a entender ela melhor, e nossa relação melhorou mto!
Acho que a Kalu tem razão, acho que todas temos fases e algumas são necessárias, mas acho que podemos passar por essas fases e nossas filhas podem saber que estamos sempre ali, disponíveis e apsar de tudo! Mais tolerantes que nossas mães, talvez, masi abertas...
Bjo grande!
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