Relato de parto da minha segunda filha
Gaia nasceu em casa
Estou aqui nesta bela tarde de verão, escutando a música "Romance", Marcus Viana, que embalou seu trabalho parto e olhando vc dormir... Inspirada para escrever sobre aquele dia. Sua vinda foi envolta por muito romantismo, tranquilidade e fé. Como deveria ser todo nascimento humano.
O que eu e seu papai, Sandro, sentimos um pelo outro é muito forte. Intenso e doce. Delícia saber que vc existiu por causa desse amor. Meses, talvez anos antes de engravidar, sabíamos que voce viria. Antes queríamos saber o dia da fecundação, o momento exato em que seria feita, mas depois decidimos simplesmente deixar vc vir quando quisesse.
E vc veio logo. Temos dúvidas quanto ao dia em que foi feita, porque dificilmente foi no período fértil. Ou vc foi gerada ou na noite do meu niver, 11/03 ou nas montanhas em Itatiaia no final de março, onde fomos acampar com seu irmão. A noite estava mto fria, sabe como é...
Dormimos agarradinhos, nos amando muito. Lá eu ficava pensando que já poderia estar grávida, mas era só um devaneio. Sua presença foi forte e especial desde o início.
Minha menstruação então atrasou. Isso só havia acontecido uma vez e foi quando veio seu irmão. Contei pro seu pai. Ele colocou a mão na minha barriga e ficou queito. Depois contou que foi porque sentiu voce. Seu irmão também percebeu algo. Por aqueles dias, nem eu sabia que estava grávida, fui tomar banho e ele passou por mim, colocando a mão na minha barriga e dizendo " Tem neném aqui...". Insisti pra repetir, mas ele nunca repetiu.
Comprei um teste de gravidez e falei com papai que iria fazê-lo e ele não deixou. Deveria ser num lugar diferente, especial. Então na tarde de domingo, dia 15 de abril, fomos para uma linda cachoeira em Penedo. Nos curtimos com a possibilidade de voce já estar lá. Esperamos as pessoas irem embora, então fiz xixi no potinho e colocamos a fita dentro... Fizemos uma oração, um pensamento positivo...
Olhamos então a fita com 2 tracinhos... Eu fiquei como uma estátua parada, olhando pro nada, porque sabia o que significava. Seu pai ainda foi ver na legenda da caixa o que significavam aquilo... Eu olhando a cachoeira boquiaberta e ele "Deixa ver, 2 tracinhos, 2 tracinhos... Cadê? Ah, achei. É positivo!"
Nos assustamos, nos olhamos, compreendemos e sorrimos. A bochecha chegava doer. Nadamos, agradecemos, te recebemos, nos demos parabens e te amamos. Pude te sentir já enraizada no meu útero... Meu útero mais uma vez ocupado com um bebezinho confiado a nós.
Imaginei os meses, o parto, até voce chegar de vez a nossos destinos.
Eu queria contar pra todo mundo, mas preferi esperar um pouco.
Curtir aquele segredo, só nós... Foi muito gostoso. Liguei pra Helo, uma das enfermeiras obstetras (ou parteira, como gosto de chamar), contei a novidade e que queria parir de novo da mesma forma.
Minha gravidez foi muito saudável... Eu estava bem comigo mesma antes de tudo e isso fez a diferença. Trabalhei muito, inclusive com humanizaçao do parto na minha cidade e trabalhei até a sexta anterior ao seu nascimento, num domingo.
Não quisemos saber seu sexo antes do nascimento, mas sua energia feminina era grande... Íamos amar o que viesse, então para que saber antes?
Acredito que o bebê nao tem sexo, ou melhor, o papel social que o sexo exerce. Não queria me furtar essa emoção, trocar a hora de saber quem voce era, apesar de ser inevitavel. Não vejo a mesma graça pela ultrassonografia. Queria viver todas as emoções a que tinha direito no nascimento. Eu soube que voce era uma menina muito antes de engravidar. E disse isso a várias pessoas.
Quando engravidei mesmo, sua energia ficou forte demais para negar. Tentávamos não pensar no seu sexo, mas quando víamos, estávamos nos referindo a voce como "ela". E só conseguíamos gostar de nomes femininos. E Minha DUM foi no dia Internacional da mulher!
Comprei um livro de nomes e dei de presente ao seu pai. Sempre gostei de Agness, mas seu pai odiava... Lembrei de uma conhecida chamada "Aglaia", quando li este nome no livro. Mostrei a ele os poucos de que havia gostado e esse, em especial. A paixão dele também foi à primeira vista pelo seu nome.
Do grego "Bela, Glóriosa" e uma flor muito perfumada, segundo a bisa. Significa tudo o que voce é. Não conseguimos gostar tanto de nenhum outro. Voce escolheu seu nome, Aglaia.
Duas semanas antes de voce nascer, comecei a perder o tampão mucoso, aquela secreção amarela que sai uns dias antes do parto. Mas eu não queria ainda, porque era cedo. E fiquei receosa, pois seu irmão nasceu 4 dias depois do tampão. Queria levar esta gravidez até 42 semanas, pois estava muuuiito gostoso ter voce dentro de mim.
A data provavel do seu parto era 13/12, com limite 27/12 e eu queria ir até mais se deixassem! O dia em que voce nasceu foi normal para minha rotina de grávida. Umas dores lombares incômodas tratadas com muita fisioterapia. A única coisa diferente foi ter passado o dia todo sem minha fiel companheira da gravidez, a azia. Era um sinal de que voce havia descido, mas não percebi. Lá pelas 16h, o Kakau estava assistindo DVDs e nós dois fomos para o quarto namorar. Foi especialmente bom. Nesse momento, seu pai disse: "Da mesma forma que eu coloquei esse bebê aí dentro, eu vou tirar", [........ .] Depois demos as mãos e dormimos. Antes das 18h, acordei com contrações parecidas com Braxton Hicks (pergunta que a mamãe te explica). Mas era só um desconforto, sentia que estava tudo bem.
Simplesmente, o sexo desencadeou o trabalho de parto! Resolvemos contar as contrações em 10 minutos. 3 eram de 50 segundos a um minuto e outra de 35 segundos. 4 em 10 voce sabe o que significa, né? Mas não estava doendo, só incomodando. ..
Não acreditava mesmo que pudesse ser o trabalho de parto. No do seu irmão doeu o tempo todo. Mas acho que desta vez, estava muito mais preparada. Cismei que tinha que ir andando à casa de uma colega entregar a apresentação em CDo que faríamos no dia seguinte. Ficava a uns 200metros de casa, ou seja, 400metros, ida e volta. Fomos os 4 lá. Eu e essa colega ainda ficamos batendo papo lá de pé. Enquanto isso, voce devia estar descendo... Eu ainda disse a ela: "Estuda isso direito porque conforme for, nem apareço amanhã!". Uma premonição, já que não achava que poderia estar em adiantado trabalho de parto.
Fomos aproveitar a última noite sem voce (não sabíamos que seria a última!!) e comer nosso tradicional hamburguer vegetariano do Kikão em frente à única pracinha da cidade! Enchemos a pança e fomos pro banquinho da praça namorar, enquanto o maninho foi pros brinquedinhos.
Mandei mensagem pra uma amiga que engravidou exatamente junto comigo, falando pra parir logo se quisesse antes de mim. Eram 8h30.
Namoramos muito no banquinho da praça. As contrações não iam embora nem doíam. Quase 9h, resolvemos ligar pra Helô. Contei que estava com contrações incômodas, indolores e bem frequentes, 4 em 10 e azia tinha desaparecido, que poderia ser o bebê baixando e que poderia estar em pródromos e também que tínhamos, de certa forma, "provocado" o trabalho de parto :) e ela pediu pra ir pra casa na mesma hora e falei que já estava vindo. Ela estava no nosso encontro trimestral dos "Bem-vindos", famílias que tiveram seus filhos em casa com ela.
Não fui, porque o parto estava "próximo". Se tivesse ido, não teria um parto em casa, mas um parto no carro!
Eu disse a ela: "Ta vendo? por isso eu não queria te avisar, agora voce vem que nem uma desesperada do Rio pra Piraí por causa de pródromos!... "
Até ela percebeu que eu ia parir e eu não... Na verdade, estava tudo bem. Não fomos pra casa.
Voltamos pro banquinho em que estávamos, o Sandro sentou e eu deitei a cabeça em seu colo. Ficamos especulando sobre ser o Trabalho de Parto mesmo, nos olhando com uma felicidade radiante nos olhos, contando as contrações que continuavam frequentes e longas...
Depois de uns 20 minutos ali, senti um estalo na vagina e algo descer quente, parecia menstruação. O Sandro diz que eu falei "Tem alguma coisa descendo aqui!". Levantamos e começou a escorrer muito líquido.
Ficamos muuuiiito felizes. Nos olhamos com brilho nos olhos e pensamos "Chegou a hora". Chamamos seu irmão que ainda me inventa de fazer pirraça para ficar na rua brincando mais.
Forramos a toalha, que já ficava no carro, no carona e viemos para casa. Rapidamente, a roupa da mamãe ficou encharcada.
Em casa, fui ao banheiro, olhei a calcinha. Queria ver como era, porque no parto do seu kakau, a bolsa foi rompida e entrei na piscina, então não vi nem curti.
Enquanto seu pai resolvia arrumar toda a casa para o parto e testar a piscininha em cima da hora, as dores iam apertando e fui tomar um banho.
Quando a contração vinha, eu tinha que me apoiar na parede do box e parar tudo para entrar na dor, entrar em mim para colocar o meu bebê para fora. Ainda me depilei durante o banho! Não era necessário, mas eu queria ficar linda no filme! (Besteira, porque estava escuro!).
Deitei no sofá da sala, enquanto seu papai estava todo enrolado ajeitando tudo. Ele colocou o DVD que escuto agora e imagens com imagens de água. Perfeito.
O Kau ficou no outro sofá e caiu no sono. Eu o queria presente, tentei prepará-lo. Papai colocou o colchão do quarto na sala e fuquei lá. De vez em quando, ele parava tudo e vinha segurar minha mão. Estava radiante. Parecia uma criança em dia de Natal. Acho que ele nunca esteve tão feliz.
A Helô ligou do caminho. A voz dela estava diferente do habitual, profundamente calma. Perguntou como eu estava e disse que estava chegando. Me passou uma tranquilidade natural que não consigo descrever. Era como uma proteção... Nao sei dizer.
Veio sozinha porque, desde o pré-natal, eu pedi.Eu havia falado sobre meu desejo de parir de uma forma mais íntima. Diferente da outra vez que tinha muita gente. Somente ela, Sandro e Klauss.
Me deu uma vontade desesperada de vomitar. Corri pro banheiro, mas acabei sujando o vaso e o chão. Era aquela overdose de hamburguer Veggie intraparto.. .
A Helô chegou umas dez horas. Engraçado esse olhar de quando a parteira chega. Não se fala muito, é silencioso, quase não estava ali. Parece que a segurança está mais do que a pessoa em si. Acho que ela disse algumas poucas palavras incentivando e ficou invisível de novo.
Sentei no outro sofá e ela auscultou o batimento. Percebi que, durante a contração, caiu muito a frequência do seu coração. Mesmo se eu não tivesse percebido, teria visto nos olhos da Helô, transparentes. Depois seu pai disse que também percebeu diminuição. Ela continuou a auscultar por mais tempo e em seguida e estabilizou.
Disse à Helo: "Sei que vc não gosta de fazer toque, mas por favor, quando eu te pedir, faz porque já não estarei aguentando mais" e ela respondeu: "Eu vim pensando sobre isso. Eu vou fazer tudo que voce pedir".
Papai trouxe nosso colchão para a sala, enquanto a banheira enchia. A dor era muito forte nessa hora. A todo momento eu o chamava para ficar comigo e ele ficava muito feliz com isto. Mas ele estava muito excitado, enchendo a piscina, pegando panos, travesseiros, todo enrolado, tadinho...
A Helô ficou num canto, no escuro, escrevendo e me olhando de longe. Deitei no colchão do lado direito, segurei a mão dele mais uma vez e pedi: "Faz passar, meu amor...", mas a vontade era de dizer "Divide comigo!" Até que num momento acho que acabei dizendo isso baixinho e senti que ele aceitou repatir a dor.
Pedi pra ela fazer um toque uns 20 minutos depois. Ela pediu licença e disse que ainda estava em 5cm, mas muito mole e fácil de dilatar. Depois que nasceu, ela contou que era entre 4 e 5 cm. Eu achei muito pouco, mas precisava saber em que parte do parto eu estava.
O Sandro disse no meu ouvido: "Agora deixa o trabalho comigo. Eu disse que vou tirar ele daí do mesmo jeito que coloquei". E respondi: "Tem que nascer ate pouco depois de meia noite. Do jeito que está, não vou aguentar muito, não".
Lembrei da câmera, ela não podia faltar e ainda o orientava como mexer nela. A Helô achava incrível como eu não me desligava e queria ter o controle sobre tudo!... Ela então pediu pra eu me entregar à dor, não evita-la, não temê-la. Eu levei o negocio a sério e quando a contração vinha, eu procurava dizer em pensamento, às vezes chegando a dizer baixinho "Que delícia...". Pensava que se eu falase com bastante fé, eu poderia acabar acreditando! Ela pediu para eu não ter medo da próxima contração. Colocou a mão no meu quadril e gritei "Não!. ..", ela se desculpou. Nem era para tanto, mas eu não podia explicar.
O papai pediu para deixar com ele e começou a fazer umas energizações, empurrando minha barriga, para baixo, sem encostar. Eu estava de lado e, mesmo de olhos fechados, disse a ele "Tem uma coisa aqui... É uma vontade de nascer..." Engraçado dizer assim...
Virei de barriga pra cima, meio sentada, meio deitada, apoiada em travesseiros. Ele ajeitava a câmera e começou a filmar. Veio mais uma contração com seu pai fazendo aqueles movimentos sem tocar e voce desceu mais. A Helô perguntou se tinha alguma bebida alcoólica em casa, como whisky, porque algumas parteiras dão nessa hora à parturiente e isso ajuda na entrega, na melhora da dor. E a gente não tinha nada... O Sandro perguntou "Serve vinho?", ela disse que sim.
A gente tinha um aberto há tempos, porque quase nunca bebemos. Ele trouxe um copo cheio. Acho que bebi tudo de uma vez. E realmente relaxei um pouco. A parteira saiu do cômodo para pegar alguma coisa (depois ela disse que era pra deixar a gente à vontade) e fiquei com meu marido. Senti mais uma forte contração e pedi pra chama-la "Tá nascendo!" e ela veio. Ficou ajoelhada na minha frente no chão e papai continuou do lado direito energizando, puxando voce pra baixo.
Eu estava de olhos fechados, mas cada vez que ele fazia isso, sentia voce descer claramente. Isso aconteceu mais umas duas ou três vezes. Sentia voce empurrando minhas estruturas pélvicas docemente até começar a arder a vagina. Engraçado eu só conseguir me recordar da pressão que voce fazia, mas não lembrar nem um pouco de como era a dor...
Quando chegamos nesse estágio, é inevitável não fazer força, ceder aos "Puxos", empurrar o bebê pra fora. Então senti voce coroar. Coroar como uma princesa!...
Eu colocava os dedos da mão direita na minha vulva já esticada e sentia sua cabecinha. Acho que nesse momento senti por dentro a pressão que sua cabeça fazia, algo, em alguma dimensão, parecido com um orgasmo. E se desse para me entregar mais, talvez tivesse rolado até o famoso "orgasmic birth". Espero que voce tenha cabeça aberta para compreender isso. Foi gostoso e surpreendente sentir algo bom meio à dor. Mas é que eu estava muito à vontade em meu habitat e sabíamos que poderia acontecer. Ainda não foi dessa vez!... Mais uma contração e voce desceu mais. Sua cabeça estava quase toda pra fora. A Helô jogava um oleozinho e eu ajeitava a vulva com os dedos. Sentia a pele muito esticada e sua cabeça já proeminete. Eu não gritava, gemia baixo. Chamando voce, meu bebê, em pensamento para vir pra mim. Era quase meia noite. Outra contração que demorou para chegar e era longa.
Eu incrivelmente tentava fechar as pernas, sem querer e a Helô as abria. Minhas coxas tremiam atrás.
Comecei a conversar contigo para que viesse pra mim. A vagina ardeu mais e sua cabecinha redonda saiu quase toda, "Ah meu bebê!" e em seguida voce pulou pra fora, chorando calmamente. Belíssimo...
Papai te puxou do meio de minhas pernas para o meu colo e te enamoramos por vários minutos... Eu, emocionada, balbuciava palavras de bem querer e dava as boas vindas a este mundo. Papai não acreditava. Tinha um sorriso enorme, profundo nos lábios. Toda enrolada no cordão (pescoço, cintura, pernas), voce pousou nos meus seios. Sinal de que já não era muito queitinha!
Olhamos muito pra ti. Seu pai te cheirou lindamente e deu um beijo loooongo na sua bochecha. E depois em mim, dizendo que nos amava e agradecendo. Eu respondi da mesma forma. Voce também nos olhava. Piscava os olhos demoradamente. Nem por um instante chorou como o tradicional. Eram alguns chorinhos baixos, mostrando que estava ali.
Lembro de mim, inundada de emoção, te achando a coisa mais linda desse mundo. E realmente... Toquei suas mãos, olhei seu corpo e, como não dava pra ver, toquei seu períneo e senti sua vulvinha... "É uma menina!", eu gritei.
Estava muito comovida. Agradecia a Deus e à vida por aquele presente. Seu pai não podia parar de sorrir. Dava para sentir, mesmo que eu não pudesse olhar. Foi o dia mais feliz de sua vida, nem precisa perguntar! Estava extasiado.
Te colocamos para mamar e a Helô pediu pra fazer uma forcinha pra "parir" a placenta. Senti umas coliquinhas incomparáveis às anteriores e uns 15 minutos depois, ela saiu, pesando 1kg! Com voce, sempre em meus braços, ela limpou a região e examinou meu períneo que simplesmente não tinha laceração, mesmo com aquele bebê enorme. Apenas 3 "cortes" pequenos e superficiais na parte superior da vulva e do lado. Preferimos não ter pontos e "prometi" repousar.
A Helô não queria nem que eu fosse ao banheiro fazer meu merecido xixi! Ela acabou concordando, porque sabia que eu iria assim que ela desse as costas! Fiz uns 30 litros e meio!
Pedi para acordarem o Kau. Ele queria ver o parto, mas não achamos legal acordá-lo na hora, mas pensei nisso. Depois ele até reclamou por não termos chamado. Eles o acordaram, não estava entendendo e veio ver a "rimã". Te encontrou enroladinha, ajoelhou e procurou seu rosto. Foi lindo o 1º contato de vcs. O interesse, o olhar...
Eu estava profundamente grata. Nunca me senti tão plena. 3.900g, 52cm. Ficamos nos curtindo por muito tempo. Seu pai ligou pra mãe dele que não acreditou. Liguei pra minha que falou pra eu parar de passar trote à cobrar pra ela de madrugada. A Helô teve que contar que era verdade.
Então a Helô colocou a mão na cintura, olhou pra mim e disse "... PARTAAAAAÇO!" E é exatamente como posso traduzir. A Helô quis ir por hotel. Disse que não poderia ficar porque "esse momento é da família". Era mesmo.
A noite estava especialmente linda e silenciosa. Perfeita. Meus gemidos e sua vozinha embalaram aquela noite de dezembro. Perfeita.
Meus gemidos e aquela sua vozinha embalaram aquela belíssima noite de dezembro. Ninguém mais escutou nada, tao íntima foi aquela noite. Foi o parto dos sonhos de todo romântico.
Só conseguimos dormir lá pelas 6h da manhã. Seu pai ainda ficou acordado. Disse que nos olhava um a um, completamente grato por ter vivido aquilo, podido ajudar a filha a nascer com toda liberdade, pela família que construímos, por estar na liberdade da nossa casa, não numa cadeira de hospital.
Pela manhã, demos seu 1º banho. A Helô voltou de manhã. Conversamos muito. Ela de vez em quando repetia... "Agora, Dy... partaaaaaço hein!" Me pareceu que a Helô estava docemente eufórica, feliz por ter participado daquilo. Acho que foi uma conquista pessoal pra ela também, depois da barra que foi o 1º. Nós merecíamos.
Seu pai se mostrou um grande companheiro... Sou muito grata pelo amor que temos e por termos escolhido um ao outro. O mano é louco por ti. Te protege, adora saber que vc usa roupinhas que eram dele. Vai ser seu grande amigo como é meu. Aproveitamos muito aqueles dias.
Quando meu leite desceu, meus seios ficaram enormes. Do 5º ao 16º dia, eu chorava de dor. Me segurava para não gritar pra não te assustar. Eu sentia claramente que meus bicos cairiam se continuasse amamentando. Ficaram muito machucados. Aguentei firme e até hoje voce mama peito e mamará por muitos anos. Nem chá, nem água nem remédio.
Com 11 dias, eu tive uma febre de quase 40ºC. Veio e foi. Pode ter sido uma infecção na mama.
A Helô voltou depois de uma semana e disse que a cicatrização estava ótima. Não usei nada.
Me sinto forte, doce, mais mulher. O parto tem muito mérito nisso. O mundo está realmente cor-de-rosa! Ver seu rostinho tranquilo dormindo ou seu sorriso inocente me enche de felicidade. Uma plenitude que chega a cada canto do meu corpo. Eu faria tudo de novo. Nunca deixarei de demonstrar minha gratidão.
Obrigada, Aglaia. Princesa, Rainha, Batatinha, Fofolete, Batatinha, Fofolete, Flor, Minha Gaia...
Te amo com toda minha alma.
Vou cuidar de ti e ser sua melhor amiga. Voce me faz muito feliz.
Amo voce
Amo voce
Amo voce.
Mamãe do Klauss e da Aglaia 27/02/08.
Gaia nasceu em casa
Estou aqui nesta bela tarde de verão, escutando a música "Romance", Marcus Viana, que embalou seu trabalho parto e olhando vc dormir... Inspirada para escrever sobre aquele dia. Sua vinda foi envolta por muito romantismo, tranquilidade e fé. Como deveria ser todo nascimento humano.
O que eu e seu papai, Sandro, sentimos um pelo outro é muito forte. Intenso e doce. Delícia saber que vc existiu por causa desse amor. Meses, talvez anos antes de engravidar, sabíamos que voce viria. Antes queríamos saber o dia da fecundação, o momento exato em que seria feita, mas depois decidimos simplesmente deixar vc vir quando quisesse.
E vc veio logo. Temos dúvidas quanto ao dia em que foi feita, porque dificilmente foi no período fértil. Ou vc foi gerada ou na noite do meu niver, 11/03 ou nas montanhas em Itatiaia no final de março, onde fomos acampar com seu irmão. A noite estava mto fria, sabe como é...
Dormimos agarradinhos, nos amando muito. Lá eu ficava pensando que já poderia estar grávida, mas era só um devaneio. Sua presença foi forte e especial desde o início.
Minha menstruação então atrasou. Isso só havia acontecido uma vez e foi quando veio seu irmão. Contei pro seu pai. Ele colocou a mão na minha barriga e ficou queito. Depois contou que foi porque sentiu voce. Seu irmão também percebeu algo. Por aqueles dias, nem eu sabia que estava grávida, fui tomar banho e ele passou por mim, colocando a mão na minha barriga e dizendo " Tem neném aqui...". Insisti pra repetir, mas ele nunca repetiu.
Comprei um teste de gravidez e falei com papai que iria fazê-lo e ele não deixou. Deveria ser num lugar diferente, especial. Então na tarde de domingo, dia 15 de abril, fomos para uma linda cachoeira em Penedo. Nos curtimos com a possibilidade de voce já estar lá. Esperamos as pessoas irem embora, então fiz xixi no potinho e colocamos a fita dentro... Fizemos uma oração, um pensamento positivo...
Olhamos então a fita com 2 tracinhos... Eu fiquei como uma estátua parada, olhando pro nada, porque sabia o que significava. Seu pai ainda foi ver na legenda da caixa o que significavam aquilo... Eu olhando a cachoeira boquiaberta e ele "Deixa ver, 2 tracinhos, 2 tracinhos... Cadê? Ah, achei. É positivo!"
Nos assustamos, nos olhamos, compreendemos e sorrimos. A bochecha chegava doer. Nadamos, agradecemos, te recebemos, nos demos parabens e te amamos. Pude te sentir já enraizada no meu útero... Meu útero mais uma vez ocupado com um bebezinho confiado a nós.
Imaginei os meses, o parto, até voce chegar de vez a nossos destinos.
Eu queria contar pra todo mundo, mas preferi esperar um pouco.
Curtir aquele segredo, só nós... Foi muito gostoso. Liguei pra Helo, uma das enfermeiras obstetras (ou parteira, como gosto de chamar), contei a novidade e que queria parir de novo da mesma forma.
Minha gravidez foi muito saudável... Eu estava bem comigo mesma antes de tudo e isso fez a diferença. Trabalhei muito, inclusive com humanizaçao do parto na minha cidade e trabalhei até a sexta anterior ao seu nascimento, num domingo.
Não quisemos saber seu sexo antes do nascimento, mas sua energia feminina era grande... Íamos amar o que viesse, então para que saber antes?
Acredito que o bebê nao tem sexo, ou melhor, o papel social que o sexo exerce. Não queria me furtar essa emoção, trocar a hora de saber quem voce era, apesar de ser inevitavel. Não vejo a mesma graça pela ultrassonografia. Queria viver todas as emoções a que tinha direito no nascimento. Eu soube que voce era uma menina muito antes de engravidar. E disse isso a várias pessoas.
Quando engravidei mesmo, sua energia ficou forte demais para negar. Tentávamos não pensar no seu sexo, mas quando víamos, estávamos nos referindo a voce como "ela". E só conseguíamos gostar de nomes femininos. E Minha DUM foi no dia Internacional da mulher!
Comprei um livro de nomes e dei de presente ao seu pai. Sempre gostei de Agness, mas seu pai odiava... Lembrei de uma conhecida chamada "Aglaia", quando li este nome no livro. Mostrei a ele os poucos de que havia gostado e esse, em especial. A paixão dele também foi à primeira vista pelo seu nome.
Do grego "Bela, Glóriosa" e uma flor muito perfumada, segundo a bisa. Significa tudo o que voce é. Não conseguimos gostar tanto de nenhum outro. Voce escolheu seu nome, Aglaia.
Duas semanas antes de voce nascer, comecei a perder o tampão mucoso, aquela secreção amarela que sai uns dias antes do parto. Mas eu não queria ainda, porque era cedo. E fiquei receosa, pois seu irmão nasceu 4 dias depois do tampão. Queria levar esta gravidez até 42 semanas, pois estava muuuiito gostoso ter voce dentro de mim.
A data provavel do seu parto era 13/12, com limite 27/12 e eu queria ir até mais se deixassem! O dia em que voce nasceu foi normal para minha rotina de grávida. Umas dores lombares incômodas tratadas com muita fisioterapia. A única coisa diferente foi ter passado o dia todo sem minha fiel companheira da gravidez, a azia. Era um sinal de que voce havia descido, mas não percebi. Lá pelas 16h, o Kakau estava assistindo DVDs e nós dois fomos para o quarto namorar. Foi especialmente bom. Nesse momento, seu pai disse: "Da mesma forma que eu coloquei esse bebê aí dentro, eu vou tirar", [........ .] Depois demos as mãos e dormimos. Antes das 18h, acordei com contrações parecidas com Braxton Hicks (pergunta que a mamãe te explica). Mas era só um desconforto, sentia que estava tudo bem.
Simplesmente, o sexo desencadeou o trabalho de parto! Resolvemos contar as contrações em 10 minutos. 3 eram de 50 segundos a um minuto e outra de 35 segundos. 4 em 10 voce sabe o que significa, né? Mas não estava doendo, só incomodando. ..
Não acreditava mesmo que pudesse ser o trabalho de parto. No do seu irmão doeu o tempo todo. Mas acho que desta vez, estava muito mais preparada. Cismei que tinha que ir andando à casa de uma colega entregar a apresentação em CDo que faríamos no dia seguinte. Ficava a uns 200metros de casa, ou seja, 400metros, ida e volta. Fomos os 4 lá. Eu e essa colega ainda ficamos batendo papo lá de pé. Enquanto isso, voce devia estar descendo... Eu ainda disse a ela: "Estuda isso direito porque conforme for, nem apareço amanhã!". Uma premonição, já que não achava que poderia estar em adiantado trabalho de parto.
Fomos aproveitar a última noite sem voce (não sabíamos que seria a última!!) e comer nosso tradicional hamburguer vegetariano do Kikão em frente à única pracinha da cidade! Enchemos a pança e fomos pro banquinho da praça namorar, enquanto o maninho foi pros brinquedinhos.
Mandei mensagem pra uma amiga que engravidou exatamente junto comigo, falando pra parir logo se quisesse antes de mim. Eram 8h30.
Namoramos muito no banquinho da praça. As contrações não iam embora nem doíam. Quase 9h, resolvemos ligar pra Helô. Contei que estava com contrações incômodas, indolores e bem frequentes, 4 em 10 e azia tinha desaparecido, que poderia ser o bebê baixando e que poderia estar em pródromos e também que tínhamos, de certa forma, "provocado" o trabalho de parto :) e ela pediu pra ir pra casa na mesma hora e falei que já estava vindo. Ela estava no nosso encontro trimestral dos "Bem-vindos", famílias que tiveram seus filhos em casa com ela.
Não fui, porque o parto estava "próximo". Se tivesse ido, não teria um parto em casa, mas um parto no carro!
Eu disse a ela: "Ta vendo? por isso eu não queria te avisar, agora voce vem que nem uma desesperada do Rio pra Piraí por causa de pródromos!... "
Até ela percebeu que eu ia parir e eu não... Na verdade, estava tudo bem. Não fomos pra casa.
Voltamos pro banquinho em que estávamos, o Sandro sentou e eu deitei a cabeça em seu colo. Ficamos especulando sobre ser o Trabalho de Parto mesmo, nos olhando com uma felicidade radiante nos olhos, contando as contrações que continuavam frequentes e longas...
Depois de uns 20 minutos ali, senti um estalo na vagina e algo descer quente, parecia menstruação. O Sandro diz que eu falei "Tem alguma coisa descendo aqui!". Levantamos e começou a escorrer muito líquido.
Ficamos muuuiiito felizes. Nos olhamos com brilho nos olhos e pensamos "Chegou a hora". Chamamos seu irmão que ainda me inventa de fazer pirraça para ficar na rua brincando mais.
Forramos a toalha, que já ficava no carro, no carona e viemos para casa. Rapidamente, a roupa da mamãe ficou encharcada.
Em casa, fui ao banheiro, olhei a calcinha. Queria ver como era, porque no parto do seu kakau, a bolsa foi rompida e entrei na piscina, então não vi nem curti.
Enquanto seu pai resolvia arrumar toda a casa para o parto e testar a piscininha em cima da hora, as dores iam apertando e fui tomar um banho.
Quando a contração vinha, eu tinha que me apoiar na parede do box e parar tudo para entrar na dor, entrar em mim para colocar o meu bebê para fora. Ainda me depilei durante o banho! Não era necessário, mas eu queria ficar linda no filme! (Besteira, porque estava escuro!).
Deitei no sofá da sala, enquanto seu papai estava todo enrolado ajeitando tudo. Ele colocou o DVD que escuto agora e imagens com imagens de água. Perfeito.
O Kau ficou no outro sofá e caiu no sono. Eu o queria presente, tentei prepará-lo. Papai colocou o colchão do quarto na sala e fuquei lá. De vez em quando, ele parava tudo e vinha segurar minha mão. Estava radiante. Parecia uma criança em dia de Natal. Acho que ele nunca esteve tão feliz.
A Helô ligou do caminho. A voz dela estava diferente do habitual, profundamente calma. Perguntou como eu estava e disse que estava chegando. Me passou uma tranquilidade natural que não consigo descrever. Era como uma proteção... Nao sei dizer.
Veio sozinha porque, desde o pré-natal, eu pedi.Eu havia falado sobre meu desejo de parir de uma forma mais íntima. Diferente da outra vez que tinha muita gente. Somente ela, Sandro e Klauss.
Me deu uma vontade desesperada de vomitar. Corri pro banheiro, mas acabei sujando o vaso e o chão. Era aquela overdose de hamburguer Veggie intraparto.. .
A Helô chegou umas dez horas. Engraçado esse olhar de quando a parteira chega. Não se fala muito, é silencioso, quase não estava ali. Parece que a segurança está mais do que a pessoa em si. Acho que ela disse algumas poucas palavras incentivando e ficou invisível de novo.
Sentei no outro sofá e ela auscultou o batimento. Percebi que, durante a contração, caiu muito a frequência do seu coração. Mesmo se eu não tivesse percebido, teria visto nos olhos da Helô, transparentes. Depois seu pai disse que também percebeu diminuição. Ela continuou a auscultar por mais tempo e em seguida e estabilizou.
Disse à Helo: "Sei que vc não gosta de fazer toque, mas por favor, quando eu te pedir, faz porque já não estarei aguentando mais" e ela respondeu: "Eu vim pensando sobre isso. Eu vou fazer tudo que voce pedir".
Papai trouxe nosso colchão para a sala, enquanto a banheira enchia. A dor era muito forte nessa hora. A todo momento eu o chamava para ficar comigo e ele ficava muito feliz com isto. Mas ele estava muito excitado, enchendo a piscina, pegando panos, travesseiros, todo enrolado, tadinho...
A Helô ficou num canto, no escuro, escrevendo e me olhando de longe. Deitei no colchão do lado direito, segurei a mão dele mais uma vez e pedi: "Faz passar, meu amor...", mas a vontade era de dizer "Divide comigo!" Até que num momento acho que acabei dizendo isso baixinho e senti que ele aceitou repatir a dor.
Pedi pra ela fazer um toque uns 20 minutos depois. Ela pediu licença e disse que ainda estava em 5cm, mas muito mole e fácil de dilatar. Depois que nasceu, ela contou que era entre 4 e 5 cm. Eu achei muito pouco, mas precisava saber em que parte do parto eu estava.
O Sandro disse no meu ouvido: "Agora deixa o trabalho comigo. Eu disse que vou tirar ele daí do mesmo jeito que coloquei". E respondi: "Tem que nascer ate pouco depois de meia noite. Do jeito que está, não vou aguentar muito, não".
Lembrei da câmera, ela não podia faltar e ainda o orientava como mexer nela. A Helô achava incrível como eu não me desligava e queria ter o controle sobre tudo!... Ela então pediu pra eu me entregar à dor, não evita-la, não temê-la. Eu levei o negocio a sério e quando a contração vinha, eu procurava dizer em pensamento, às vezes chegando a dizer baixinho "Que delícia...". Pensava que se eu falase com bastante fé, eu poderia acabar acreditando! Ela pediu para eu não ter medo da próxima contração. Colocou a mão no meu quadril e gritei "Não!. ..", ela se desculpou. Nem era para tanto, mas eu não podia explicar.
O papai pediu para deixar com ele e começou a fazer umas energizações, empurrando minha barriga, para baixo, sem encostar. Eu estava de lado e, mesmo de olhos fechados, disse a ele "Tem uma coisa aqui... É uma vontade de nascer..." Engraçado dizer assim...
Virei de barriga pra cima, meio sentada, meio deitada, apoiada em travesseiros. Ele ajeitava a câmera e começou a filmar. Veio mais uma contração com seu pai fazendo aqueles movimentos sem tocar e voce desceu mais. A Helô perguntou se tinha alguma bebida alcoólica em casa, como whisky, porque algumas parteiras dão nessa hora à parturiente e isso ajuda na entrega, na melhora da dor. E a gente não tinha nada... O Sandro perguntou "Serve vinho?", ela disse que sim.
A gente tinha um aberto há tempos, porque quase nunca bebemos. Ele trouxe um copo cheio. Acho que bebi tudo de uma vez. E realmente relaxei um pouco. A parteira saiu do cômodo para pegar alguma coisa (depois ela disse que era pra deixar a gente à vontade) e fiquei com meu marido. Senti mais uma forte contração e pedi pra chama-la "Tá nascendo!" e ela veio. Ficou ajoelhada na minha frente no chão e papai continuou do lado direito energizando, puxando voce pra baixo.
Eu estava de olhos fechados, mas cada vez que ele fazia isso, sentia voce descer claramente. Isso aconteceu mais umas duas ou três vezes. Sentia voce empurrando minhas estruturas pélvicas docemente até começar a arder a vagina. Engraçado eu só conseguir me recordar da pressão que voce fazia, mas não lembrar nem um pouco de como era a dor...
Quando chegamos nesse estágio, é inevitável não fazer força, ceder aos "Puxos", empurrar o bebê pra fora. Então senti voce coroar. Coroar como uma princesa!...
Eu colocava os dedos da mão direita na minha vulva já esticada e sentia sua cabecinha. Acho que nesse momento senti por dentro a pressão que sua cabeça fazia, algo, em alguma dimensão, parecido com um orgasmo. E se desse para me entregar mais, talvez tivesse rolado até o famoso "orgasmic birth". Espero que voce tenha cabeça aberta para compreender isso. Foi gostoso e surpreendente sentir algo bom meio à dor. Mas é que eu estava muito à vontade em meu habitat e sabíamos que poderia acontecer. Ainda não foi dessa vez!... Mais uma contração e voce desceu mais. Sua cabeça estava quase toda pra fora. A Helô jogava um oleozinho e eu ajeitava a vulva com os dedos. Sentia a pele muito esticada e sua cabeça já proeminete. Eu não gritava, gemia baixo. Chamando voce, meu bebê, em pensamento para vir pra mim. Era quase meia noite. Outra contração que demorou para chegar e era longa.
Eu incrivelmente tentava fechar as pernas, sem querer e a Helô as abria. Minhas coxas tremiam atrás.
Comecei a conversar contigo para que viesse pra mim. A vagina ardeu mais e sua cabecinha redonda saiu quase toda, "Ah meu bebê!" e em seguida voce pulou pra fora, chorando calmamente. Belíssimo...
Papai te puxou do meio de minhas pernas para o meu colo e te enamoramos por vários minutos... Eu, emocionada, balbuciava palavras de bem querer e dava as boas vindas a este mundo. Papai não acreditava. Tinha um sorriso enorme, profundo nos lábios. Toda enrolada no cordão (pescoço, cintura, pernas), voce pousou nos meus seios. Sinal de que já não era muito queitinha!
Olhamos muito pra ti. Seu pai te cheirou lindamente e deu um beijo loooongo na sua bochecha. E depois em mim, dizendo que nos amava e agradecendo. Eu respondi da mesma forma. Voce também nos olhava. Piscava os olhos demoradamente. Nem por um instante chorou como o tradicional. Eram alguns chorinhos baixos, mostrando que estava ali.
Lembro de mim, inundada de emoção, te achando a coisa mais linda desse mundo. E realmente... Toquei suas mãos, olhei seu corpo e, como não dava pra ver, toquei seu períneo e senti sua vulvinha... "É uma menina!", eu gritei.
Estava muito comovida. Agradecia a Deus e à vida por aquele presente. Seu pai não podia parar de sorrir. Dava para sentir, mesmo que eu não pudesse olhar. Foi o dia mais feliz de sua vida, nem precisa perguntar! Estava extasiado.
Te colocamos para mamar e a Helô pediu pra fazer uma forcinha pra "parir" a placenta. Senti umas coliquinhas incomparáveis às anteriores e uns 15 minutos depois, ela saiu, pesando 1kg! Com voce, sempre em meus braços, ela limpou a região e examinou meu períneo que simplesmente não tinha laceração, mesmo com aquele bebê enorme. Apenas 3 "cortes" pequenos e superficiais na parte superior da vulva e do lado. Preferimos não ter pontos e "prometi" repousar.
A Helô não queria nem que eu fosse ao banheiro fazer meu merecido xixi! Ela acabou concordando, porque sabia que eu iria assim que ela desse as costas! Fiz uns 30 litros e meio!
Pedi para acordarem o Kau. Ele queria ver o parto, mas não achamos legal acordá-lo na hora, mas pensei nisso. Depois ele até reclamou por não termos chamado. Eles o acordaram, não estava entendendo e veio ver a "rimã". Te encontrou enroladinha, ajoelhou e procurou seu rosto. Foi lindo o 1º contato de vcs. O interesse, o olhar...
Eu estava profundamente grata. Nunca me senti tão plena. 3.900g, 52cm. Ficamos nos curtindo por muito tempo. Seu pai ligou pra mãe dele que não acreditou. Liguei pra minha que falou pra eu parar de passar trote à cobrar pra ela de madrugada. A Helô teve que contar que era verdade.
Então a Helô colocou a mão na cintura, olhou pra mim e disse "... PARTAAAAAÇO!" E é exatamente como posso traduzir. A Helô quis ir por hotel. Disse que não poderia ficar porque "esse momento é da família". Era mesmo.
A noite estava especialmente linda e silenciosa. Perfeita. Meus gemidos e sua vozinha embalaram aquela noite de dezembro. Perfeita.
Meus gemidos e aquela sua vozinha embalaram aquela belíssima noite de dezembro. Ninguém mais escutou nada, tao íntima foi aquela noite. Foi o parto dos sonhos de todo romântico.
Só conseguimos dormir lá pelas 6h da manhã. Seu pai ainda ficou acordado. Disse que nos olhava um a um, completamente grato por ter vivido aquilo, podido ajudar a filha a nascer com toda liberdade, pela família que construímos, por estar na liberdade da nossa casa, não numa cadeira de hospital.
Pela manhã, demos seu 1º banho. A Helô voltou de manhã. Conversamos muito. Ela de vez em quando repetia... "Agora, Dy... partaaaaaço hein!" Me pareceu que a Helô estava docemente eufórica, feliz por ter participado daquilo. Acho que foi uma conquista pessoal pra ela também, depois da barra que foi o 1º. Nós merecíamos.
Seu pai se mostrou um grande companheiro... Sou muito grata pelo amor que temos e por termos escolhido um ao outro. O mano é louco por ti. Te protege, adora saber que vc usa roupinhas que eram dele. Vai ser seu grande amigo como é meu. Aproveitamos muito aqueles dias.
Quando meu leite desceu, meus seios ficaram enormes. Do 5º ao 16º dia, eu chorava de dor. Me segurava para não gritar pra não te assustar. Eu sentia claramente que meus bicos cairiam se continuasse amamentando. Ficaram muito machucados. Aguentei firme e até hoje voce mama peito e mamará por muitos anos. Nem chá, nem água nem remédio.
Com 11 dias, eu tive uma febre de quase 40ºC. Veio e foi. Pode ter sido uma infecção na mama.
A Helô voltou depois de uma semana e disse que a cicatrização estava ótima. Não usei nada.
Me sinto forte, doce, mais mulher. O parto tem muito mérito nisso. O mundo está realmente cor-de-rosa! Ver seu rostinho tranquilo dormindo ou seu sorriso inocente me enche de felicidade. Uma plenitude que chega a cada canto do meu corpo. Eu faria tudo de novo. Nunca deixarei de demonstrar minha gratidão.
Obrigada, Aglaia. Princesa, Rainha, Batatinha, Fofolete, Batatinha, Fofolete, Flor, Minha Gaia...
Te amo com toda minha alma.
Vou cuidar de ti e ser sua melhor amiga. Voce me faz muito feliz.
Amo voce
Amo voce
Amo voce.
Mamãe do Klauss e da Aglaia 27/02/08.
3 comentários:
Snif, snif! Nossa, chorei um monte. Se eu engravidar, vc vai ter que vir a Campinas, rsrs
Que relato lindo!!
Bjoks
Paula
Que relato lindo!
Puro e emocionante!!
De verdade, um sonho!
Beijinhos, Thalita.
LINDO! LINDO! LINDO!
Ainda não tinha lido teu relato de parto! Em vários momentos, me lembrou do meu próprio parto domiciliar.
Temos muito em comum, com certeza! ;-)
Beijos mil
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